Leituras de agosto (ou quase)
Agosto foi um mês corrido, com muitos projetos no trabalho e os preparativos para o lançamento do livro, IVUC. Mesmo assim, deu para acumular milhas com leituras diversas. Foram muitos contos, novelas e dois romances. Mesclei ficção científica brasileira com alguns clássicos. Vem pra resenha!
O problema dos três corpos
Best-seller do autor chinês Cixin Liu, O problema dos três corpos já virou até série de TV, mas eu ainda não tinha lido. É um livro que caminha para se tornar clássico da Hard SciFi e é um daquele enredos que só lendo mesmo. A premissa vem desafiar o que a gente entende como realidade, incluindo situações em que alguma força/entidade/whatever consegue “imprimir” horários e contagens regressivas em tudo que vemos ou registramos, ou mesmo controlar o universo visível. A história une realidade virtual, pesquisa científica de base, civilizações alienígenas, mistérios matemáticos da Física e momentos de ação estilo “Missão Impossível”, tudo por um olhar chinês e não hollywoodiano. Super, super, super vale. Mas, nem tudo são flores.
Três problemas do Problema de Três Corpos:
- Trilogia. Eu só queria ler um livro, não assinar um contrato de longo prazo. Abaixo a ditadura das trilogias!
- Personagens rasos. O enredo é incrível e é um ótimo livro apesar dos personagens unidimensionais, meio rasos. Os diálogos acabam sendo ruins também, por conta disso.
- Etnocentrismo. Chamem Michael Burnham ou algum outro xenoantropólogo pra ajudar aqui. Algumas inferências sobre o jeito de seres extraterrestres pensarem me pareceram presos demais à referência terrestre. Se falar mais, darei spoilers.
Um passeio pelo Caos
Um Passeio pelo Caos: contos do cotidiano distópico é a primeira coletânea de contos do autor brasileiro Vinícius Canabarro. São oito histórias que nos mergulham nas vísceras (em geral, repugnantes) da experiência humana. O maior desafio do escritor distópico é disputar com a realidade, e Vinícius encara o desafio nos provocando reflexões do tipo: “Ah, mas ninguém faria isso. Não. Faria. O pior é que faria. Fazem, inclusive.” Meu destaque vai para duas histórias que levam ao extremo movimentos retrógrados e de intolerância que proliferaram nos últimos anos.
Alma
Alma, de Fernando Rômbola, é o terceiro texto de uma quadrilogia, construído como um conto longo/ novela/ romance curto (aliás, esse híbrido entre romances e contos que a literatura digital propicia rende um post à parte). Temos aqui uma experiência repleta de paradoxos, multiversos e viagens no tempo enquanto acompamhamos Alma, uma humana (?) ciberneticamente aumentada com IA embutida (imagine uma pessoa com uma Super Alexa dentro dela) em uma jornada para descobrir quem é e qual seu propósito.
No caminho, vamos conhecendo mais e mais de um futuro distópico e dos limites éticos, tecnológicos, físicos e biológicos do Homem.
A arma
O conto A arma, de Philip K. Dick, foi publicado em 1952 e entrou em domínio público. Esta versão em ebook, que custa apenas R$ 1,99 e pode ser lida de graça pelo Kindle Unlimited, foi muito bem traduzida por Laura e Lilian Scaramussa Azevedo. Bastaria dizer que é um texto de Philip K. Dick para embasar a indicação, mas vou além. É uma baita história, sobre uma nave que descobre um planeta desolado por uma explosão nuclear (a história foi escrita com a Terra ainda sacolejando pela bomba em Hiroshima). Ao se aproximarem, uma arma dispara. Quem? Por quê? Como? Pra quê? Baixa lá.
Todos (Danilo Heitor)
Todos, de Danilo Heitor, é uma novela que me impactou. Rápida e direta, é uma história adaptada de um podcast. Isso explica o estilo narrativo, em que vamos descobrindo um capítulo/episódio por vez, junto com o interlocutor invisível do protagonista, quem é e o que aconteceu com um centésimo décimo segundo assassinado do Massacre do Carandiru que escapou da morte e foi parar em uma São Paulo distópica e militarizada. É outra história com viagem no tempo, mas também com vingança e o olhar da periferia.
2BR02B
Outro conto das antigas resgatado na era digital, 2BR02B: ser ou nada ser, é uma história Kurt Vonnegut publicada em 1962. Nela, a humanidade superou uma grave crise de superpopulação com avanços médicos que permitem a cada pessoa viver quase que indefinidamente. Mas tem um porém: para cada nova pessoa nascer, alguém precisa escolher morrer.
IVUC – A Iniciativa C’ach’atcha
Tive que reler (pela 59483a vez) meu próprio livro, IVUC – A Iniciativa C’ach’atcha, nas últimas revisões antes do lançamento, no finzinho de agosto. É uma ficção científica/ ópera espacial com muito humor. Eu gostei mesmo e fiquei impressionado com o autor 😂. Mas o ideal é que, nesse caso, você tire suas próprias conclusões.
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