Que papel o futuro reserva para a leva de empreendedores e profissionais que surfou na onda da Internet e acabou por se arrebentar nas rochas?
No dia 4 de abril, em meio a tanta morte, sangue e politicagens baratas – como sempre -, uma boa notícia saiu nos jornais. Através de terapia genética, o pequeno Rhys Evans, de 18 meses, foi curado da Severa Deficiência Imunológica Combinada (SCID), a Síndrome do Garoto da Bolha. O menino inglês seria forçado, não fosse a vedete tecno-científica do momento, a viver enclausurado em ambientes esterilizados por toda a vida.
Quem se aventurou pela misteriosa e promissora seara da internet tem idéia do que esperava o pobre Rhys. Fomos todos garotos e garotas da bolha, a grande bolha criada por gente inescrupulosa, picareta, inocente e sonhadora. A mesma bolha que a imprensa tão rapidamente alçou à maior maravilha da humanidade capitalista ocidental e, com a mesma velocidade, rechaçou como a bailarina de música baiana que perdeu o timing de seus 15 minutos de fama.
Foi assim. Surfamos uma onda que não sabíamos nem onde, nem como iria quebrar, mas mesmo o mais ingênuo dos jovens empreendedores sabia que ela quebraria em algum momento. Ou estouraria, para mantermos a metáfora da bolha.
A realidade de contatos dinâmicos, números instáveis e sonhos, muitos sonhos, parece agora parte de um passado distante, de uma viagem de férias a um continente exótico, diferente, isolado no espaço-tempo. Hoje restam poucos dos primeiros empreendedores. Há alguns meses encontrei um velho colega, sócio de uma das primeiras incubadoras de empresas pontocom brasileiras. Quando fazíamos parte da bolha, os olhos brilhavam, fazíamos planos, discutíamos business plans. Ele era outro quando o reencontrei. O mesmo aconteceu com outros que viram suas idéias florescerem, serem encampadas por investidores de risco e por eles mesmos infladas e sepultadas.
Éramos empresários, líderes, visionários. Hoje voltamos, em grande parte, ao mercado tradicional. Somos funcionários, gerentes, diretores. Mas a liberdade, a autonomia, a sensação de não sabermos o que nos espera o próximo passo simplesmente por que ninguém tinha dado o próximo passo ainda… isso não volta. E não se apaga de nossas mentes.
Arrisco dizer que em cinco, dez anos, esta geração que ainda cura os arranhões e se livra dos restos da bolha estourada, guardados como funéreos souvenirs, contribuirá para a forma de pensar e agir das grandes empresas, as mesmas que existiam antes da internet, e continuarão existindo.
Um mercado de trabalho se formou e desapareceu, quase que por completo. Sim, ainda existe internet e as empresas que a fazem funcionar, mas onde está o brilho no olhar? Onde está a força que faz boas – e más – idéias virarem sites, serviços, dinheiro para investidores gananciosos? Pode estar nas bolhas que surgem. Nanotecnologia, genética. Olho nisso.
Pode estar na bolha que curou Rhys Evans, a integração entre tudo o que foi criado. O grande problema que sempre identificamos na internet foi que é cada vez mais difícil gerenciar e absorver todo o conhecimento nela retido. O mesmo vale para o desenvolvimento científico e tecnológico.
Nossa próxima onda pode estar neste embrião que plantamos ao tentar organizar nossa caótica teia: a capacidade de encontrar e conectar as diferentes idéias que brotam a todo instante, agora em várias áreas, em qualquer área. Pois o que é biotecnologia e manipulação genética senão fruto do melhor dos mundos da medicina, química, informática, software e fabricação de componentes eletrônicos?
Sou jornalista por formação. Era “um jovem promissor da internet” por ocupação. Como muitos, já me sinto deslocado em qualquer uma destas profissões previamente definidas. Dos escombros da bolha descobrimos nossa essência. Somos da Era do Amálgama, de conectar tudo o que foi criado. A era da Pós-Informação. Que seja um mundo que valha a pena para Rhys Evans crescer.