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O fim dos tempos

Written by

Roberto Cassano
An artist's conception of star scorching its nearby exoplanet. New research shows that aging red giant stars, far from destroying life, could warm frozen worlds into habitable homes. Credit: ESO/L. Calçada

Um voo intrometido numa praia que não é a minha, essa poesia retrata o fim da vida de nossso Sol, quando ele se tornará uma estrela gigante vermelha, destruindo os planetas da órbita interior, incluindo nosso pálido ponto azul.

Não restava vivalma na pedra
Que nos servia de casa
Quando o Sol se agigantou.

Não foi o fogo, foi o branco
De um calor tamanho
Que fundiu em si
Todas as cores.

Do mar, em branco evaporou-se o azul
Da mata, amarelou-se o verde
E em branco, o amarelo se fez cinza.

Na briga, não eterna
Entre querer o universo
E a contrição da gravidade
Ganhou o querer
E gigante o Sol ficou.

Como se de saudade morresse
Fez da Terra sua consorte.
Como se uma serpente fosse
O beijo era de morte.
Não foi o fogo, foi o branco.

Como não restasse vivalma
Quando o Sol ficou gigante
Ninguém viu, nem sofreu, porém.
Nem branco, nem fogo, nem nada.
 
Depois o Sol fraquejou
Vencido pela gravidade.
Encolheu, murchou, apequenou.

Fraco para explodir
Forte para abrandar
Matou o que já definhara.
Tornou-se estrela anã.
Não era fogo, mas branca.

De nós, sobrou a pedra esturricada
Onde já não restava vivalma.
Porque matar-se em fogo
É coisa do Homem, não do Sol.

Ao fim, só restou
Um silêncio branco.
Um Sol moribundo.
Uma rocha esturricada.
Sem fogo, nem nada.
Sem cor, nem corpo.
Sem vivalma.

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