Lute pela Web
“Foi necessária a contribuição de todos nós para construir a Web que temos hoje. E precisaremos de todos para garantir seu futuro.” É assim que se apresenta o Contrato pela Web, iniciativa capitaneada pelo criador da WWW, Tim Berners-Lee, por meio da World Wide Web Foundation.
É a melhor forma de iniciar a conversa, pois traz de volta à discussão o fato, hoje pouco evidente, de que não foi a determinação isolada de mega-empreendedores que trouxe a internet até o que ela é hoje, foi nossa ação coletiva. Não tivesse se mostrado um ambiente coletivo e colaborativo ímpar na história humana, poucos empreendedores teriam se aventurado nesse terreno digital da forma que o fizeram. Sem nossas páginas no Geocities, sem os blogs, os álbuns do Flogão, as comunidades do Orkut, as convenções criadas espontaneamente por usuários de Twitter, como os RTs, sem a imensa variedade de coisas à venda nos eBays e Mercado Livres da vida, sem tudo isso não existiria um Facebook, um Google.
Mesmo que não tenha um único leitor, um livro continua sendo um livro. Uma edição de O Globo não depende do leitor para ter conteúdo, fotos, textos. Google e Facebook não existem sem seus usuários (e sem os terabytes de informações que eles fornecem a todo momento). O mesmo vale para qualquer rede social (que, sem nós, não é nem rede nem social) e para buscadores (que precisam ter o que buscar).
Nos acostumamos a nos apequenar, a abrir mão de nosso protagonismo. Esse manifesto, na forma de um conjunto de princípios e assinado como um contrato, define 9 ações que devem ser tomadas se quisermos que a internet continue (ou volte) a ser um espaço plural, saudável e democrático. E não é um abaixo-assinado para que alguém faça alguma coisa. É um documento com o qual todos podem (devem, eu diria) se comprometer. Há princípios para governos, para empresas e para nós, cidadãos. Todos podem e devem contribuir de alguma forma. Da mesma maneira, todos têm nas mãos o poder de terminar de estragar tudo, com consequências nefastas e distópicas.
Temos visto no mundo inteiro o incrível potencial de estrago que a Internet tem, sobretudo sobre o frágil sistema democrático. E com metade da população ainda desconectada, essa ferramenta de inclusão torna-se plataforma de exclusão.
Muitos já consideram a internet um serviço de utilidade pública e, como tal, garantir acesso universal e a preço justo — se não gratuito — é primordial. Depois, é preciso garantir ambiente saudável e com respeito à privacidade.
Por último, a chamada a ação combinada com um choque de realidade: a Web não vai se salvar numa canetada. Algumas das empresas que apoiam o Contrato pela Web desde seu lançamento são justamente algumas sobre as quais recaem mais questionamentos e denúncias, como Google e Facebook. Levará um tempo até recolocarmos a Web nos trilhos e nada aponta para um caminho linear e tranquilo. A luta pela liberdade, pela democracia e, agora, pela Web, não é pontual. É de constante vigilância.
Então, agora, mas também a cada postagem, a cada compartilhamento, a cada tentação para entrar numa treta, a cada “cancelamento”, pense duas vezes e lute pela Web.
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