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Crônicas do Interlúdio: o bonde da evolução não espera ninguém

Written by

Roberto Cassano
Capas dos contos da série Crônicas do Interlúdio, de Maikel Rosa (Saifers)

Há 200 ou 300 e tantos mil anos, provavelmente numa quarta-feira à tarde, um bebê humano abriu os olhos. Com a visão ainda embaçada pela miopia dos recém-nascidos, viu seus pais, que eram parecidos com o que ele seria ao crescer. Mas não exatamente iguais. Fruto de algumas mutações, o bebê, ao contrário dos progenitores, era o primeiro da espécie que viríamos a chamar de homo sapiens. A gente. Nós. Eu, você e o Alok. E essa criatura foi evoluindo lentamente até os dias atuais.

Corta para uma edição frenética das ficções científicas e blockbusters de Hollywood. Pensa em tudo o que mudou para nossa espécie no último milênio desses 200 mil anos de história. Deslocamentos, viagens intercontinentais, cruzamentos entre vários genótipos levemente diferentes entre si, a medicina, a agricultura, a descoberta do fogo e dos alimentos cozidos, o domínio sobre os demais animais…

Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, sem falar do antropoceno e do terrorismo que impomos ao meio ambiente, será que tem como fazer a viagem no sentido inverso e imaginar o que será a espécie dominante 200 mil anos no futuro?

Baita desafio

Maikel Rosa se propôs esse desafio com “Crônicas do Interlúdio” (Saifers, 2024), uma série de seis contos de ficção científica que mostram, ao longo desses 200 milênios de história, o surgimento de uma nova espécie inteligente na Terra, aquela que virá nos substituir.

Os seis contos SciFi estão sendo publicados aos poucos. Os três primeiros já saíram (disponíveis como eBook Amazon Kindle), e posso dizer que são incríveis.A Prole“, “A Réplica” e “A Casta” apresentam flashes, recortes desse processo gradual.

Três socos SciFi no estômago

Em “A Prole”, nos deparamos com o desespero de uma mãe em busca do filho desaparecido. São várias as provocações aqui, desde o conceito de memória e realidade até o que podemos definir como parentalidade. O que pode ter sua própria “prole”? Apenas seres biológicos?

A Réplica” é desconfortável, incômodo, cruel. Talvez por apresentar um contexto próximo demais, tangível demais. Aqui, somos confrontados com um dos maiores defeitos do homo sapiens, a capacidade de criar e usar ferramentas para fins desumanos, mesquinhos, cruéis.

O mais recente, “A Casta“, se encaixa na linha do tempo de outras obras de Maikel, em um momento em que “humanos sintéticos” já são uma realidade. Quem acompanhou a primeira temporada de Star Trek Picard se sentirá em casa.

Ainda faltam três contos. Dá tempo de pegar o bonde da evolução, mesmo que seja andando.

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