Isaac Asimov Magazine: iniciação científica
O ano era 1990. O Brasil vivia um período distópico. Collor havia confiscado o dinheiro da poupança dos brasileiros e a situação financeira ainda pioraria bastante. Para um nerd suburbano adolescente metido a cientista, acesso a computadores e itens eletrônicos demandava operações que mais pareciam negociatas com algum cartel de drogas, fora quantias financeiras em geral inacessíveis. Ainda ecoava em mim o trauma da explosão do ônibus espacial Challenger e o fiasco da visita do cometa Halley, ambos em 1986. Mas havia uma esperança. Novos e fascinantes mundos começaram a se abrir quando tomei contato com a versão brasileira da Isaac Asimov Magazine, publicada por aqui pela Ed. Record, entre 1990 e 1992.
Tive/tenho três das 25 edições publicadas no Brasil. Elas traziam diversos contos cuidadosamente selecionados, editados e com traduções excelentes. Ainda havia ilustrações, algumas com agradável toque pulp. As duas primeiras revistas me custaram Cr$ 99 (99 cruzeiros. O Plano Real só surgiria quatro anos mais tarde), mas o preço logo subiu para Cr$ 130. Inflação. Para fins e comparação, o gibi da Turma da Mônica custava Cr$ 50 nesta época. Podemos dizer que eram bastante acessíveis. Foi meu primeiro contato com muitos grandes nomes da ficção científica. Em um dos contos, conheci a Lei de Tchekhov pela voz de uma das personagens: “se um revólver aparece em uma cena qualquer de uma história, é porque ele será disparado até o final.“
Revisitando recentemente os exemplares de páginas amareladas, me surpreendi com um dos autores. Ele mesmo, George R.R. Martin, de Game of Thrones, apresentado como roteirista de Além da Imaginação e autor do premiado conto Portrait of His Children. Sua história, A Flor de Vidro, conta com valiosa tradução de Fábio Fernandes.
Incrível como uma pequena coleção de livros de bolso/ revistas literárias pode ter marcado tanto, tido uma importância tão grande em minha já evidente paixão por tecnologia e SciFi. Isaac Asimov tinha a Força.
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